miércoles, 29 de diciembre de 2010

NÃO HÁ VAGAS. Ferreira Gullar - Rubens Gerchman


NÃO HÁ VAGAS.
Poema, Ferreira Gullar
O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão

O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras

- porque o poema, senhores,
está fechado:
"não há vagas"

Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço

O poema, senhores,
não fede
nem cheira

Ferreira Gullar, pseudônimo de José Ribamar Ferreira (São Luís, 10 de setembro de 1930) é um poeta, crítico de arte, biógrafo, tradutor, memorialista e ensaísta brasileiro e um dos fundadores do neoconcretismo, movimento artístico surgido no Rio de Janeiro, em fins dos 50, como reação ao concretismo ortodoxo.
Os neoconcretistas procuravam novos caminhos dizendo que a arte não é um mero objeto, tem sensibilidade, expressividade, subjetividade...
Sobre o pseudônimo, o poeta declarou o seguinte: “O Ferreira é do meu pai e o Gullar que é de minha mãe. Só que eu mudei a grafia porque o Gullar de minha mãe é o Goulart francês. É um nome inventado, como a vida é inventada eu inventei o meu nome.”
Fez parte de um movimento literário difundido através da revista que lançou o pós-modernismo no Maranhão, A Ilha, da qual foi um dos fundadores.
Morando no Rio de Janeiro, participou do movimento da poesia concreta, sendo então um poeta extremamente inovador.
Em 1956 participou da exposição concretista que é considerada o marco oficial do início da poesia concreta, criando, junto com Lígia Clark e Hélio Oiticica, o neoconcretismo. Posteriormente, ainda no início dos anos de 1960, se afastará deste grupo também, por concluir que o movimento levaria ao abandono do vínculo entre a palavra e a poesia, passando a produzir uma poesia engajada e envolvendo-se com os Centros Populares de Cultura (CPCs)
Prêmios
Ganhou o concurso de poesia promovido pelo Jornal de Letras com seu poema "O Galo" em 1950. Os prêmios Molière, o Saci e outros prêmios do teatro em 1966 com "Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come", que é considerada uma obra prima do teatro moderno brasileiro.
Em 2002, foi indicado por nove professores para o Prêmio Nobel de Literatura. Em 2007, seu livro Resmungos ganhou o Prêmio Jabuti de melhor livro de ficção do ano.
Foi considerado um dos 100 brasileiros mais influentes do ano de 2009.
Foi agraciado com o Prémio Camões 2010.
Em 15 de outubro de 2010, foi contemplado com o título de Doutor Honoris Causa, na Faculdade de Letras da UFRJ.

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