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sábado, 12 de marzo de 2011

Eu sei que vou te amar

Aponta-se como data de criação 1954.

Eu sei que vou te amar. Caetano Veloso

Garota de Ipanema

"Garota de Ipanema" é um das mais conhecidas canções de Bossa Nova e MPB, foi composta em 1962 por Vinícius de Moraes e Antônio Carlos Jobim. Em 19 de março de 1963 sai a gravação.

Tom Jobim, com Vinícius de Moraes

Vinícius de Moraes (1913-1980)

Nasceu no Rio de Janeiro em 19 de Outubro de 1913.
Seu pai era funcionário mais também poeta e violonista, e sua mãe pianista. Na casa dos pais, todas as noites tinham música, com a presença de grandes artistas. De menino participou dos coros da escola e da igreja.
Ingressou na Faculdade de Direito do Catête, onde seu amigo Otávio Faria descobriu e incentivou sua vocação literária. Graduou-se de advogado.
Foi letrista de musicas gravadas entre 1932 e 1933 algumas em parceria com Haroldo Tapajóse com Paulo Tapajós e uma com o violonista J. Medina.
Nessa época, era amigo de Manuel Bandeira, Oswald de Andrade e Mário de Andrade.
Ganhou bolsa do Conselho Britânico para estudar língua e literatura inglesas na Universidade de Oxford, com o inicio da Segunda Guerra Mundial, retornou ao Rio de Janeiro.
Empregou-se como critico cinematográfico no jornal A Manhã, colaborando também em seu Suplemento Literário e na revista Clima, dirigida pelo critico literário Antônio Cândido.
Em 1946, após dois anos de estagio, assumiu seu primeiro posto diplomático, indo para EUA, como vice-cônsul. Em 1950 retornou ao Brasil e, um ano depois, começou a trabalhar no jornal Última Hora.
Em 1953 foi para Paris, França, como segundo secretário da embaixada, depois foi transferido para Montevidéu, Uruguai, onde ficou até 1960.
Sua peça Orfeu da Conceição, premiada em 1954 no concurso de teatro do IV Centenário de São Paulo SP, foi publicada na revista Anhembi.
Em 1956, resolveu montar Orfeu da Conceição, no Brasil paralelamente a filmagem da peça dirigida por o francês Marcel Camus. Por ela ganhou a palma de ouro no Festival de Cannes, França, e o Oscar de Hollywood, EUA, como melhor filme estrangeiro.
Sua vida foi a de um intelectual boêmio dedicado à música, a poesia, a teatro, a literatura...
Em 1967, organizou o festival de arte em Ouro Preto MG.
Participou de shows com, entre outros, Bom Jobim, Chico Buarque e Nara Leão, Oscar Castro-Neves, Dori Caymmi e Maria Creusa, Toquinho, Marília Medalha.
Vinícius faleceu no Rio de Janeiro em 09 de Julho de 1980.
Bondes do Rio no Filme "Orfeu Negro" (1957-1958)


http://www.mpbnet.com.br/musicos/vinicius.de.moraes/index.html

Pátria Minha

Vinicius de Moraes (1949)

A minha pátria é como se não fosse, é íntima
Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo
É minha pátria. Por isso, no exílio
Assistindo dormir meu filho
Choro de saudades de minha pátria.

Se me perguntarem o que é a minha pátria direi:
Não sei. De fato, não sei
Como, por que e quando a minha pátria
Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água
Que elaboram e liquefazem a minha mágoa
Em longas lágrimas amargas.

Vontade de beijar os olhos de minha pátria
De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos...
Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde!) tão feias
De minha pátria, de minha pátria sem sapatos
E sem meias pátria minha
Tão pobrinha!

Porque te amo tanto, pátria minha, eu que não tenho
Pátria, eu semente que nasci do vento
Eu que não vou e não venho, eu que permaneço
Em contato com a dor do tempo, eu elemento
De ligação entre a ação o pensamento
Eu fio invisível no espaço de todo adeus
Eu, o sem Deus!

Tenho-te no entanto em mim como um gemido
De flor; tenho-te como um amor morrido
A quem se jurou; tenho-te como uma fé
Sem dogma; tenho-te em tudo em que não me sinto a jeito
Nesta sala estrangeira com lareira
E sem pé-direito.

Ah, pátria minha, lembra-me uma noite no Maine, Nova Inglaterra
Quando tudo passou a ser infinito e nada terra
E eu vi alfa e beta de Centauro escalarem o monte até o céu
Muitos me surpreenderam parado no campo sem luz
À espera de ver surgir a Cruz do Sul
Que eu sabia, mas amanheceu...

Fonte de mel, bicho triste, pátria minha
Amada, idolatrada, salve, salve!
Que mais doce esperança acorrentada
O não poder dizer-te: aguarda...
Não tardo!

Quero rever-te, pátria minha, e para 
Rever-te me esqueci de tudo
Fui cego, estropiado, surdo, mudo
Vi minha humilde morte cara a cara
Rasguei poemas, mulheres, horizontes
Fiquei simples, sem fontes.

Pátria minha... A minha pátria não é florão, nem ostenta
Lábaro não; a minha pátria é desolação
De caminhos, a minha pátria é terra sedenta
E praia branca; a minha pátria é o grande rio secular
Que bebe nuvem, come terra 
E urina mar.

Mais do que a mais garrida a minha pátria tem
Uma quentura, um querer bem, um bem
Um libertas quae sera tamem
Que um dia traduzi num exame escrito:
"Liberta que serás também"
E repito!

Ponho no vento o ouvido e escuto a brisa
Que brinca em teus cabelos e te alisa
Pátria minha, e perfuma o teu chão...
Que vontade de adormecer-me
Entre teus doces montes, pátria minha
Atento à fome em tuas entranhas
E ao batuque em teu coração.

Não te direi o nome, pátria minha
Teu nome é pátria amada, é patriazinha
Não rima com mãe gentil
Vives em mim como uma filha, que és
Uma ilha de ternura: a Ilha 
Brasil, talvez.

Agora chamarei a amiga cotovia
E pedirei que peça ao rouxinol do dia
Que peça ao sabiá
Para levar-te presto este avigrama:
"Pátria minha, saudades de quem te ama...
Vinicius de Moraes."

Texto extraído do livro "Vinicius de Moraes - Poesia Completa e Prosa", 

miércoles, 29 de diciembre de 2010

Antonio Berni (1905/1981)

A grande tentação ou a grande ilusão. (1962)

NÃO HÁ VAGAS. Ferreira Gullar - Rubens Gerchman


NÃO HÁ VAGAS.
Poema, Ferreira Gullar
O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão

O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras

- porque o poema, senhores,
está fechado:
"não há vagas"

Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço

O poema, senhores,
não fede
nem cheira

Ferreira Gullar, pseudônimo de José Ribamar Ferreira (São Luís, 10 de setembro de 1930) é um poeta, crítico de arte, biógrafo, tradutor, memorialista e ensaísta brasileiro e um dos fundadores do neoconcretismo, movimento artístico surgido no Rio de Janeiro, em fins dos 50, como reação ao concretismo ortodoxo.
Os neoconcretistas procuravam novos caminhos dizendo que a arte não é um mero objeto, tem sensibilidade, expressividade, subjetividade...
Sobre o pseudônimo, o poeta declarou o seguinte: “O Ferreira é do meu pai e o Gullar que é de minha mãe. Só que eu mudei a grafia porque o Gullar de minha mãe é o Goulart francês. É um nome inventado, como a vida é inventada eu inventei o meu nome.”
Fez parte de um movimento literário difundido através da revista que lançou o pós-modernismo no Maranhão, A Ilha, da qual foi um dos fundadores.
Morando no Rio de Janeiro, participou do movimento da poesia concreta, sendo então um poeta extremamente inovador.
Em 1956 participou da exposição concretista que é considerada o marco oficial do início da poesia concreta, criando, junto com Lígia Clark e Hélio Oiticica, o neoconcretismo. Posteriormente, ainda no início dos anos de 1960, se afastará deste grupo também, por concluir que o movimento levaria ao abandono do vínculo entre a palavra e a poesia, passando a produzir uma poesia engajada e envolvendo-se com os Centros Populares de Cultura (CPCs)
Prêmios
Ganhou o concurso de poesia promovido pelo Jornal de Letras com seu poema "O Galo" em 1950. Os prêmios Molière, o Saci e outros prêmios do teatro em 1966 com "Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come", que é considerada uma obra prima do teatro moderno brasileiro.
Em 2002, foi indicado por nove professores para o Prêmio Nobel de Literatura. Em 2007, seu livro Resmungos ganhou o Prêmio Jabuti de melhor livro de ficção do ano.
Foi considerado um dos 100 brasileiros mais influentes do ano de 2009.
Foi agraciado com o Prémio Camões 2010.
Em 15 de outubro de 2010, foi contemplado com o título de Doutor Honoris Causa, na Faculdade de Letras da UFRJ.

Le Parc, Julio (Argentina, 1928)

Julio Le Parc nasceu na Ciudade de Mendoza na Argentina atualmente mora em Paris
Em Buenos Aires, estuda na Escola de Belas Artes que abandona aos poucos. Em 1954 ingressou na Escola Superior de Belas Artes em 1958 viaja a Paris com um bolso de estudo do Serviço Cultural Francês.
Começou suas experiências ópticas em pinturas que apresentam sequências progressivas de formas, de posições e cores. Integra-se aos grandes da época. Em 1966 ganhou o Grande Prêmio Internacional de Pintura na Bienal de Venecia e apresenta sua primeira retrospectiva no Instituto Torcuato Di Tella de Artes Visuais em Buenos Aires. Desmistificou a arte participando em muitas exposições e mostras na América, na Europa
Ante algumas obras de Julio Le Parc nos perguntamos: o que é? Pintura? Escultura? Objetos?
Temos ter em conta que é arte cinética, as peças são feitas de materiais industriais e tem o fator surpresa e crítica à concepção da arte estável. Os movimentos às vezes são sugeridos, outras ilusórios. Motiva a participação do público na obra da arte.

Seis círculos em contorção, 1967 (de uma série)
Cintas de aço inoxidável, braços mecânicos de alumínio y motores em caixa de madeira. Ao ativar um interruptor na parede começa o movimento. Cada movimento modifica a forma do círculo que está perto., também se modifica a luz pelos reflexos e tem o som dos motores.

martes, 28 de diciembre de 2010

Museu MALBA

Para fechar o quadrimestre da aula de Literatura, combinamos fazer uma visita ao Museu MALBA.
Voltamos à história do século XX relacionando acontecimentos políticos, obras literárias estudadas no curso e as obras de artistas plásticos da época achadas no Museu.
Nossa guia, a professora Adriana Almeida.
Os acontecimentos políticos e obras literárias típicas foram postados no transcurso do quadrimestre. Tentarei fazer um resumo do recorrido artístico marcando autores e obras observadas detalhadamente, além de comentários feitos pela professora Adriana.

Generalidades: Nos anos 1920 até 1940, os intelectuais pensam o Brasil, Surgindo o sentimento nacional e os regionalismos. Mudam os parâmetros da gramática diferenciando-se da língua portuguesa instituindo uma nova língua. Reconheceu-se a mistura de raças e defendeu-se a Academia de Letras do Brasil fundada por Machado de Assis em 1897.
A palavra 'bossa' era um termo da gíria carioca que, no fim dos anos cinquenta , significava 'jeito'. Quando alguém fazia algo de modo diferente, original, de maneira fácil e simples, dizia-se que esse alguém tinha 'bossa', 'bossa de arquiteto', 'bossa de jornalista'...
A expressão 'Bossa Nova' surgiu em oposição a tudo o que um grupo de jovens achava velho, antigo. Bossa Nova foi batida diferente do violão, poesia diferente das letras, cantores diferentes dos mestres, ela não é nem um gênero musical. É o tratamento que se dá a uma música, em termos de 'batida' e de ritmo.
Surgem os regionalismos na literatura, Jorge Amado, Érico Veríssimo, Mario de Andrade, cada um escreve sua região. Na música se criou “Aquarelas do Brasil”.
Com o governo de Getúlio Vargas, busca-se enxertar no Brasil no mundo, no concerto das Nações, para isso inverteram na difusão da língua, para conhecer e valorar o Brasil. Cria-se a Fundação de Estudos Brasileiros com esse objetivo. FUNCEB. O ministro de Educação e Saúde Pública foi Gustavo Capanema (1900/1985) quem defendia uma educação igualitária sob a responsabilidade do Estado. Nas letras e nas artes plásticas, Capanema procurou colocar-se acima das disputas políticas e ideológicas que agitavam o país. Assessorado por seu chefe de gabinete, o poeta Carlos Drummond de Andrade, cercou-se de uma equipe diversificada, integrada, pelos intelectuais mais prestigiosos, fomentando as artes e as letras e os trabalhos dos artistas populares com o projeto “Arte para todos”.

lunes, 27 de diciembre de 2010

O Seminarista. Rubem Fonseca (2010)

Passeio Noturno. Rubem Fonseca

Agosto. (1990)

Transcorre em agosto de 1954 e apresenta os sucessos históricos que culminaram com o suicídio de Getúlio Vargas. Mês de crimes, de atentados políticos, de lutas infames pelo poder. Um mês de paixões, de gestos de desespero e de loucura. Um mês de multidões nas ruas.
O romance é feito de muitas histórias: pessoais, policiais, políticas, heróicas, reais, fictícias.
É antes de tudo uma brilhante irônica e dramática celebração literária.
Apesar de complexa realidade da década de 50, a obra é objetiva e de fácil compreensão.
Uma característica é o paralelismo entre os fatos reais e a ficção que, somados a uma linguagem simples e coloquial, proporcionam uma leitura rápida e agradável.

Na história policial-ficcional têm voz Getúlio, seu irmão Benjamim, sua filha Alzira, vários ministros.
Todo a redor do personagem central, o comissário Alberto Mattos que é um personagem fictício, como suas namoradas. Cada personagem tem seu estilo, sua linguagem, o policial, o político, o advogado. Cada um tem seu código, o comissário narra e a obra têm diálogos, ações, dramas, dúvidas, tentativa de assassinato, mortes...
O enredo:
Os escândalos políticos apareciam diariamente nas páginas dos jornais. Getúlio Vargas, Presidente da República, começou perder sua popularidade. O povo estava dividido entre o Presidente e Carlos Lacerda, jornalista implacável que dizia desmascarar o governo brasileiro. Lacerda era o maior opositor ao governo.
Se planejou um atentado contra a vida de Carlos Lacerda que saiu apenas ferido, enquanto outro crime aconteceu, o assassinato de um milionário em seu próprio luxuoso apartamento, em um bairro importante na cidade do Rio de Janeiro.
A vida do comissário estava cercada pelos crimes, ele tinha úlcera no estômago e estava envolvido com duas namoradas que o perturbavam.
O Comissário tinha uma única pista do assassinato do milionário, um anel dourado e alguns pêlos de negro no sabonete do banheiro. Uma de suas namoradas era casada com Pedro e diz que ele tinha como amante à viúva do milionário morto.
Começou uma investigação que o levou ao dono do anel, e com ele, ao crime.
A situação se tornou cada vez mais crítica para o Presidente quem marcou uma reunião com os ministros no Palácio do Catete. Cada um fez a sua análise da situação política nacional. Vargas, cansado, solitário e deprimido, foi a seu quarto e decidiu "sair da vida para entrar na História", com um tiro no peito acabou com sua vida e convulsionou o país.
O suicídio foi a saída para a situação catastrófica.

Ao final do romance, temos muitos elementos à vista, a corrupção policial, as negociatas políticas no Senado e na Câmara, a compra de favores, a derrota do único honesto como sinal da impossibilidade de existir um pouco de honestidade naquele meio.

As convulsões ocorrem, mas tudo sempre volta à calma com o se nada tivesse acontecido.

Feliz Ano Novo. Conto

É o conto que dá o nome ao livro. Nele, Rubem Fonseca expõe cruamente o contraste entre a classe marginalizada, pobre, e a burguesia indiferente ao que acontece na periferia.
Por sua fala, seu lugar que cheira mal, que têm drogas, armas e objetos roubados, a narrativa está ambientada no estrato social de excluídos, estrato ao que pertencem os três protagonistas dessa história que são negros, feios e desdentados. O narrador, que é um deles.
Os personagens assistem por Tv aos preparativos para a chegada do Ano Novo e a propagandas das roupas para se comprarem. Isso fez imaginarem como seria uma festa dos ricos e incitou-los à violência...
Decidiram invadir uma casa dos ricos que estariam dando uma festa, eles poderiam roubar respondendo à agressão que sentiram na TV.
Os marginais invadiram uma mansão por acaso, em meio da festa de réveillon.
A única descrição importante da casa é do banheiro do quarto da proprietária que possuía uma grande banheira de mármore, a parede forrada de espelhos e tudo cheirando a perfume.
Essa descrição dá para marcar a diferença com as casas dos marginais onde o banheiro cheirava tão mal às vezes preferiam usar a escada do prédio.
Rubem Fonseca mostra o pensamento de seus leitores de classe média: Os marginais, como não podem ter o que nós temos, destroem o que é nosso. Essa é a tônica do conto.

Não tem tentativa de diálogo entre esses dois espaços tão distantes, estão ressaltadas a inveja e a violência dos que nada têm. Além disso, Rubem Fonseca mostra também que a violência perpassa todos os estratos sociais, pareceria ser que é uma condição da vida cotidiana nos grandes centros urbanos.

Livro: Feliz Ano Novo (1975)

É indispensável a leitura deste livro de contos para conhecer o mínimo a respeito de Rubem Fonseca,
Meses após a primeira publicação, o governo militar, com seu autoritarismo, proibiu a circulação do livro.
O ministro Armando Falcão, responsável pela censura, disse do livro o seguinte: "Li pouquíssima coisa, talvez uns seis palavrões, e isso bastou".
Um senador ligado aos militares declarou sobre Feliz Ano Novo que "Suspender foi pouco. Quem escreveu aquilo deveria estar na cadeia e quem lhe deu guarida também. Não consegui ler nem uma página. Bastaram meia dúzia de palavras. É uma coisa tão baixa que o público nem deveria tomar conhecimento".
O livro Feliz Ano Novo e seu autor tinham recebido julgamentos favoráveis e contrários.
Apenas em 1989 o público brasileiro pôde adquirir nas livrarias novos exemplares do livro Feliz Ano Novo que gozou de grande sucesso.
Toda a polêmica levantada por estes contos foi por que pela primeira vez, a literatura brasileira retratava a vida de um país urbano, industrial, com desigualdades históricas, que nos anos 70, viraram na violência social e na pobreza que repercute até os dias de hoje. Rubem Fonseca consegue, com seus contos, perceber um país de língua vulgar, de práticas criminosas tão próximas, em que a vida começa a valer muito pouco, em que personalidades verdadeiras sucumbem ante o poder do dinheiro e da máquina de exclusão social. Narrar casos de violência extrema serveu para desnudar a facilidade com que se adere ao cinismo e à hipocrisia.

José Rubem Fonseca

É um extraordinário contista e romancista do Brasil, escritor e roteirista do cinema brasileiro. Nasceu em 1925. Graduou-se em Ciências Jurídicas e Sociais na Faculdade Nacional de Direito da então Universidade do Brasil, atual Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Em 1952 iniciou sua carreira na polícia onde foi exonerado em 1958. Muitos dos fatos vividos naquela época estão imortalizados em seus livros.
Aluno brilhante da Escola de Polícia se destacou em Psicologia. Seu trabalho foi cuidar do serviço de relações públicas da polícia. Não demonstrava, então, inclinação pela literatura.
Em 1953 foi escolhido, com mais nove policiais cariocas, para se aperfeiçoar nos Estados Unidos e aproveitou a oportunidade para estudar administração de empresas na New York University.
As obras de Rubem Fonseca geralmente retratam, em estilo seco e direto, a luxúria e a violência urbana, em um mundo onde marginais, assassinos, prostitutas, miseráveis e delegados se misturam. Também é uma marca sua, a história através da ficção, como no romance Agosto (seu livro mais famoso) em que retratou as conspirações que resultaram no suicídio de Getúlio Vargas, ou em O Selvagem da Ópera em que retrata a vida de Carlos Gomes.
Criou, para protagonizar alguns de seus contos e romances, um personagem antológico: O advogado Mandrake, mulherengo, cínico e imoral, além de profundo conhecedor do submundo carioca. Mandrake foi transformado em série para a televisão, com roteiros de José Henrique Fonseca, filho de Rubem, e o ator Marcos Palmeira.
Sendo profundamente interessado na arte cinematográfica, escreve também roteiros para filmes, muitos premiados.
É viúvo de Théa Maud e tem três filhos: Maria Beatriz, José Alberto e o cineasta José Henrique Fonseca.

Romances
O caso Morel (1973)// A grande arte (1983)// Bufo & Spallanzani (1986)// Vastas emoções e pensamentos imperfeitos (1988)// Agosto (1990)// O selvagem da ópera (1994)// O doente Molière (2000)// Diário de um fescenino (2003)// Mandrake, a bíblia e a bengala (2005)// O Seminarista (2009)
Contos
Os prisioneiros (1963)/// A coleira do cão (1965)// Lúcia McCartney (1967)// Feliz Ano Novo (1975)// O cobrador (1979)// Romance negro e outras histórias (1992)// O buraco na parede (1995)// Histórias de amor (1997)// A confraria dos espadas (1998)// Secreções, excreções e desatinos (2001)// Pequenas criaturas (2002)// 64 Contos de Rubem Fonseca (2004)// Ela e outras mulheres (2006)
Outros
O homem de fevereiro ou março (antologia, 1973)// E do meio do mundo prostituto só amores guardei ao meu charuto (novela, 1997)// O romance morreu (crônicas, 2007)
Prêmios
Coruja de Ouro pelo roteiro de Relatório de um homem casado, filme dirigido por Flávio Tambellini
Kikito do Festival de Gramado, pelo roteiro de Stelinha, dirigido por Miguel Faria Jr.
Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte pelo roteiro de A grande arte, filme dirigido por Walter Salles Jr.
Prêmio Jabuti
Em 2003, ganhou o Prêmio Camões, o mais prestigiado galardão literário para a língua portuguesa.

viernes, 24 de diciembre de 2010

A Medalha. Lygia Fagundes Telles


Neste conto, sonda a alma humana. Analisa-se o cotidiano, um embate entre mãe e filha, revelam o drama ali presente, que lido em profundidade, revela narrações, paralelas, sob o véu da aparência.
Adriana é uma jovem na época da revolução sexual, anos 60/70, chega da farra de manhã. A mãe, burguesa, chama-a de “cadela”.
Tem cabelos oxigenados de louro. Diz que é branca, mas tem “sangue podre” e assusta a mãe dizendo que os netos vão nascer morenos, manifesta o racismo da mãe, as banalidades.
A mãe diz que a filha puxou ao pai e a descreve.
Adriana não se importa, vai se casar com quem for conveniente e vai levar a vida como quiser.
A mãe tenta mais uma vez ser tradicional e dá à filha uma medalha que estava na família há três gerações.
Adriana pega, amarra a medalha no pescoço de um gato e o empurra porta adentro do quarto da mãe.

Natal na barca (1958)

Fantasia e realidade se encontraram no conto, tem como tema a força da fé, a existência de milagres, a vida e a morte.
A história a narra uma mulher e começa em primeira pessoa. Os fatos narrados aconteceram no Natal, durante uma viagem de barca. O cenário é lúgubre como o espírito da narradora-personagem: “em redor tudo era silêncio e treva” a embarcação era “desconfortável, tosca”, “despojada” e “sem artifícios”; a grade da barca era de “madeira carcomida”; o chão era feito de “tábuas gastas”
A barca tem quatro passageiros: a narradora, um velho bêbado e uma mulher com o filho doente, uma criança de quase um ano de idade.
Nota-se uma certa melancolia, talvez uma falta de esperança.
Chamou-me a atenção as oposições, os contrastes que estão presentes ao longo do texto: A água do rio, “tão gelada”, mas “de manhã é quente”; as roupas da mulher, “pobres roupas puídas”, entretanto, “tinham muito caráter, eram dignas".
A narradora começou a falar com a mulher e surgiu a história. O motivo que leva a mulher a estar na barca é a urgência de levar o filho doente ao médico, o aconselhou o farmacêutico para que ela procurasse o especialista “hoje”. O filho doente está no colo da mãe quem contou as desgraças de sua vida. A fala continua até chegar ao destino, onde se apresenta a força da fé.

Apresentaram -se as tragédias pelas quais a mulher passou: a morte do primeiro filho, o abandono pelo marido. Mas, também se conhece a fé que a mulher tem.
A mulher passa a sonhar com Deus, ela sente a mão de Deus a conduzindo. Deus deu à mulher o conforto que ela precisava. O componente emocional, da história é muito forte.

A estrutura da bolha do sabão

Esse conto dá nome ao livro.
A história: A personagem feminina não tem nome e reencontra uma antiga paixão: um físico, agora casado. No tempo anterior, ele estudava a estrutura da bolha de sabão.
No momento do encontro, ele estava acompanhado de sua mulher, a protagonista automaticamente lembra do tempo compartilhado dos dois, em que brincavam com as bolhas de sabão “A estrutura da bolha de sabão, compreende? Não compreendia.” Ela se sentia atraída por ele.
No conto, muito tempo depois, a atração ficou evidente e a esposa do físico sentiu ciúmes.
Ocorre um segundo encontro em uma exposição de pintura. A paixão aflora na personagem. Novamente os ciúmes afloram na esposa do físico. É nesta festa que a personagem descobre, através de um amigo em comum, que seu amado está doente.
Foi até a casa do casal aí é tratada com muita cordialidade e sem nenhuma sombra de ciúmes pela esposa outra mulher quem saiu deixando-os a sós.

Os personagens mostram a frágil existência. Tem a representação do amor, do ódio, da sensibilidade, da crueldade, da sutileza, dos desejos. Tudo se estoura finalmente como a bolha do sabão. Valoriza os cinco sentidos, usa adjetivos nas descrições dando cor às imagens. O tempo todo são lembranças, devaneios.
A memória e a invenção se confundem se misturam. O conto está em primeira pessoa, autobiografia? mergulhou nos detalhes, incógnitas, enigmas...

Lygia de Azevedo Fagundes

Nasceu o 19 de abril de 1923 em SP a escritora passou seus primeiros anos da infância mudando-se constantemente. Gostava das histórias que ouvia e em pouco tempo, começou a criar seus próprios contos contados no nas rodas domésticas. Seu pai gostava de freqüentar casas de jogos, levando Lygia consigo "para dar sorte" ela gostava de jogar no verde. O verde não abandonou jamais.
Porão e sobrado é o primeiro livro de contos publicado por ela, em 1938, com a edição paga por seu pai. Assina apenas como Lygia Fagundes.
Inicia o curso de Direito em 1941, que terminou em 1946,freqüentando as rodas literárias que se reuniam em restaurantes, cafés e livrarias próximas à faculdade. Ali conhece Mário e Oswald de Andrade, Paulo Emílio Sales Gomes, entre outros, e integra a Academia de Letras da Faculdade e colabora com os jornais Arcádia e A Balança. Para se sustentar, trabalha como assistente do Departamento Agrícola do Estado de São Paulo.
Já formada começa com a publicação de seus livros.
Casa-se com o jurista Goffredo da Silva Telles Jr., seu professor na Faculdade de Direito que, na ocasião, 1950, era deputado federal. Muda-se, em virtude desse fato, para o Rio de Janeiro, onde funcionava a Câmara Federal.
Com seu retorno à capital paulista, em 1952, começou a escrever seu primeiro romance, Ciranda de pedra. Na fazenda Santo Antônio, em Araras - SP, de propriedade da avó de seu marido, foi onde na década de 20 se reuniam os escritores e artistas que participaram do movimento modernista, tais como Mário e Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral, Anita Mafaldi e Heitor Villa-Lobos. Ela estava aí com frequança. Separada de seu marido, passa a viver com Paulo Emílio Salles Gomes e começa a escrever o romance As meninas, inspirado no momento político por que passa o país.
Fez a adaptação para o cinema do romance D. Casmurro, de Machado de Assis. Esse trabalho foi publicado, sob o título de Capitu.
Presidiu a Cinemateca Brasileira, que Paulo Emílio ajudara a fundar depois ele morrer.
Adaptaram-se para TV seus romances e baseada em seu romance se estréia o filme “As meninas”.
Em 1982 foi eleita para a cadeira 28 da Academia Paulista de Letras e, em 1985, foi eleita, para ocupar a cadeira 16 da Academia Brasileira de Letras, fundada por Gregório de Mattos, na vaga deixada por Pedro Calmon.
Participou do Salão do Livro da França por convite do governo francês.
Agraciada, em março de 2001, com o título de Doutora Honoris Causa pela Universidade de Brasília (UnB).
Em 2005, recebe o Prêmio Camões, o mais importante da literatura em língua portuguesa.
Sua obra foi traduzida para o espanhol, o francês, o inglês, o italiano, o polonês, o sueco, o tcheco, edições em Portugal-
Teve obras de autoria individual e participações.
OBRAS DA AUTORA
Contos:
Porão e sobrado, 1938 // Praia viva, 1944 // O cacto vermelho, 1949 // Histórias do desencontro, 1958 // Histórias escolhidas, 1964 // O jardim selvagem, 1965 // Antes do baile verde, 1970 // Seminário dos ratos, 1977 // Filhos pródigos, 1978 (reeditado como A estrutura da bolha de sabão, 1991) // A disciplina do amor, 1980 // Mistérios, 1981 // A noite escura e mais eu, 1995 // Venha ver o por do sol // Oito contos de amor // Invenção e Memória, 2000 (Prêmio Jabuti) // Durante aquele estranho chá: perdidos e achados, 2002 // Meus contos preferidos, 2004 // Histórias de mistério, 2004 // Meus contos esquecidos, 2005
Romances:
Ciranda de pedra, 1954 // Verão no aquário, 1963 // As meninas, 1973 // As horas nuas, 1989

Além de Antologias, Crônicas publicadas na imprensa, Adaptações para o cinema, para o teatro, para a televisão

PRÊMIOS:

Prêmio do Instituto Nacional do Livro (1958)
Prêmio Guimarães Rosa (1972)
Prêmio Coelho Neto, da Academia Brasileira de Letras (1973)
Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro (1980)
Prêmio Pedro Nava, de Melhor Livro do Ano (1989)
Melhor livro de contos, Biblioteca Nacional
Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro
Prêmio APLUB de Literatura
Prêmio Jabuti (Ficção) (2001)
Prêmio Camões (2005)

viernes, 10 de diciembre de 2010

Divina Comédia. Nelson Rodrigues

A obra tem cinco fragmentos.
1. A vida é uma apatia...
2. A vizinha nova, cuja vida aparenta ser o contrário de dela, é o disparador.
3. Com o beijo cinematográfico começa outra etapa.
4. Tem orgulho de esfregar na cara a sua felicidade aos outros.
5. Renasce o amor verdadeiro outra vez.
Destacam-se: dois mundos, um fora e outro na casa.

A Dama de lotação.

Sinose:
Carlos (Nuno Leal Maia) e Solange (Sônia Braga) se amam desde jovens e, se casaram. Na noite de núpcias, Solange se recusa a fazer amor com ele. Era pura
Primeiro ele implora, depois a estupra. Solange afirma que o adora, mas nos meses que se seguiram ao casamento ela não pode ser tocada por Carlos. Para provar a si mesma que não é frígida, começa uma rotina diária de seduzir homens em coletivos, homens que ela nunca viu nem verá novamente e nem mesmo sabe seus nomes. Além disto, ela tem relações com o melhor amigo de Carlos e até mesmo com seu sogro (Jorge Dória). Carlos entende que ela é infiel e, armado, confronta Solange. Enquanto isso, ela busca ajuda psiquiátrica, pois não sente nenhum remorso.