
A própria alegria da festa parece rir, cruelmente, do seu luto pessoal.
A menina ficava até onze horas da noite, ao pé da escada do sobrado onde morava, olhando os outros se divertirem, economizava o lança-perfume e o saco de confetes que ganhava. Ela não se fantasiava. Aos oito anos, teve um carnaval diferente. A mãe de uma amiguinha fantasiou a filha de rosa, usando papel crepom; com as sobras, fez a mesma fantasia para ela. Os cabelos ficariam enrolados e lhe passariam batom e rouge. Viveu a expectativa do momento de vestir a fantasia completamente alheia do seu drama pessoal, a menina não pensa na mãe a sofrer. Não pensa na morte que se aproxima, e a agitação da família em torno da mãe doente é ignorada em função da fantasia. “pela primeira vez na vida eu teria o que sempre quisera: ia ser outra que não eu mesma”, revela o desejo de fuga daquela situação angustiante. Preparada para a festa, é enviada depressa à farmácia para comprar remédio para a mãe, que sofre uma súbita piora.
A tragédia se atravessa no caminho da sua alegria, quebra da magia da criança.
“Não era mais uma Rosa, era um palhaço pensativo de lábios encarnados”.
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