sábado, 16 de julio de 2011

Budapeste. Capítulos 1 a 4


O primeiro capítulo começa com a frase: ”Devia ser proibido debochar de quem se aventura em língua estrangeira”. São reminiscências do narrador José Costa para explicar como aprendeu a falar húngaro com a professora e namorada Krista. Nesta frase, o narrador começa a grande discussão que percorre todo o livro, porque a linguagem constitui-se em uma personagem, tal sua importância no decorrer do livro. José costa foi parar por acaso em Budapeste e lá começou o fascínio pela língua magiar de Budapeste. O personagem voava de Istambul a Frankfurt com conexão para o Rio, foi oferecido o hotel do aeroporto para pernoitar. Foram avisados dos problemas técnicos responsáveis por aquela escala, foi na verdade uma denuncia anônima de bomba a bordo. Nesse capítulo, o autor afirma que a língua húngara: ”uma única língua do mundo, segundo as más línguas, o diabo respeita”. Não há nesse capítulo, informações adicionais dos personagens, como nomes, profissões ou localização temporal, nota-se uma dualidade que podem ser recordações ou talvez o tempo presente da narrativa.

No segundo capítulo começa com uma descrição do personagem assistindo televisão em que sua mulher Vanda é apresentadora do telejornal. O personagem liga a secretaria eletrônica e escuta as mensagens e todas são descritas como se fossem um monologo interior, para um leitor desavisado causa um susto. Nesse parágrafo, o narrador continua descrevendo as ações de forma intercalada com raríssimos pontos finais, como se fosse a transmissão dos seus pensamentos ou a sensação de fuga que se sobrepõe ao resto. Como se a linguagem transmitisse o que sente, sem, no entanto dizer nada objetivamente.
Assim quando termina o parágrafo, entendemos as sensações de fuga medo, hesitação que nos passa, precisa ir para agência. Tem preguiça, mas necessita da agência. Contudo também lembra que esse descaso não existia, quando agência era pequena. Então Álvaro, seu sócio, passava os dias fazendo contatos na rua, anunciavam nos classificados sempre dizendo que eram confiáveis e tudo era feito de maneira confidencial. José da Costa aceitava qualquer encomenda, escrevia não por dinheiro, porém, para aprimorar o estilo. Dissertavam sobre tudo, monografias, provas de medicina, petições de advogados, cartas de amor, de desespero, chantagens, ameaças de suicídios. Mas nunca assinava seu nome, era um “ghost writer”.

Álvaro o achava um gênio e o explorava ou José se deixava explorar, pois não gostava da parte social ou fingia não gostar, é uma personagem de diferentes facetas.O narrador começa redigir discursos políticos, mesmo sendo bem pago, sentia-se infeliz, pois os oradores ao lerem seus discursos, atropelavam as palavras e esqueciam os parágrafos que o narrador mais gostava. Nesta época começa a escrever artigos em jornais de grande circulação. Segundo o narrador surge sua recompensa profissional. Contudo, eram escritos para outras pessoas, no entanto o fato delas serem famosas fazia o personagem sentir-se estimulado, era como progredir na sombra.

Entregam, meio por acaso, um envelope com um convite para encontro anual de autores anônimos em Melbourne, o narrador não acha importante, mas depois de uma briga com a esposa, resolveu ir ao encontro na Austrália. Nesse encontro em hotel soturno, oradores de diversas nacionalidades dissertavam sobre escritos que tinham feitos para outras, eram muitos pares de José. Todos derrotados e vangloriando-se de textos sem autoria. O narrador protegido pelo anonimato falou dos seus textos, dissertou até se sentir vazio como se tivesse libertado sua alma.
Entretanto o presente retornou e o personagem voltou a vida de escritor fantasma. Engravidou sua mulher e a agencia cresceu, foram contratados vários escritores todos eram treinados para serem iguais ao personagem José. O narrador sente-se incomodado com aquela fábrica de clones, sente-se deprimido e começa a escrever biografias.

Álvaro acha interessante, acredita na criação de biografias como um mercado farto e reprimido. O narrador relata que muitos clientes famosos o queriam como biografista, mas somente aceitava aqueles tão obscuros como ele, porém muitos ricos para pagar muito bem. São descritas várias biografias. José vai para um novo encontro de autores anônimos em Istambul, na volta precisava fazer a biografia de um alemão que mal sabe falar português. Na volta de Istambul, não tem vontade de escrever, sente-se fatigado, não no sentido físico, é sua alma que está doente. Acha o filho extremamente gordo, porém não faz nada não diz nada, é completamente omisso como pai.

Então o sucesso veio com a biografia de Kaspar Krabbe, o livro GINOGRAFO.
O narrador criou uma excelente biografia, ao qual o alemão aprendeu escrever Português nos corpos das suas amantes brasileiras, a biografia torna-se um sucesso. A descrição dessa biografia acontece no livro Budapeste como se o narrador as tivesse vivenciado. Constitui-se em uma intensidade que quase nos enreda na história, já não sabemos mais o que é real ou imaginário. José começa a transformar-se, usa as palavras como ações. Para o personagem foi penoso entregar este livro, pois as palavras saíram tão rápidas, intensas, e não poderia  esfrutá-las, logo pertenceriam a outro.

Porém, José sabia que não assinaria a biografia, pois nunca impôs nenhuma regra de co-autoria ,possuía medo de tentar mudar e já não tinha sonhos. Resolveu viajar com sua mulher, na última hora no aeroporto, Vanda foi para Londres ele foi para Budapeste.

Este capítulo há um retorno para o primeiro, o narrador está em Budapeste com Krista. O personagem sente a pobreza de seu vocabulário húngaro quando tenta descrever a beleza de Krista, somente diz: ”bela, branca”. Neste capítulo, José explica como aprendeu húngaro usando substantivos e relaciona a paixão por Krista com o desejo de aprender a língua magiar. O personagem em suas viagens sempre se hospedava em um hotel Plaza. O personagem caminha por Budapeste, se embebeda, é enganado por um casal que o faz pagar a conta do bar. José sentiu seu desconhecimento da língua, pois se dominasse o idioma não teria sido enganado.

A personagem Krista diz para José que a língua magiar não se aprende nos livros, sim na vida, que teria que esquecer língua anterior para entender húngaro. Então começa a estudar húngaro com Krista e também amá-la. Krista tinha um filho, ao qual José era tão indiferente quanto ao seu filho. Segundo o personagem, Krista nunca teve interesse por sua vida, não sabia que era casado, tinha um filho e era um escritor fantasma em Língua Portuguesa.
De vez enquanto, sentia saudades de Vanda, do Rio de Janeiro, mas sentia mais saudades da Língua portuguesa do que sua mulher. José resolve voltar para o Rio de Janeiro, não consegue se despedir de Krista, não possui palavras suficientes para lhe dizer adeus, porém Krista entende e sofre. Nestas idas e vindas do narrador não há determinação de temporalidade. O personagem não dá explicações a suas atitudes, vê o mundo e suas relações sob uma ótica particular e subjetiva. Há uma insatisfação com o seu tempo presente, talvez não saiba ou não entenda o que procura, Rio de Janeiro ou Budapeste? Vanda ou Krista? José não é mais um com seu mundo. É um  contra o mundo, contra si mesmo, pois sua alma o atormenta, esmaga. Trata-se da fragmentariedade de um mundo que reflete no homem.

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